Onde estão as deficiências?

Onde estão as deficiências?

Neste fim de semana fomos realizar um sonho junto com a minha pequena Manu, fomos assistir ao Disney On Ice em Porto Alegre, no Gigantinho. O bacana de ser mãe e pai, é que agente volta a ser criança e realiza sonhos de infância.

A história, e o motivo deste post, começam na compra dos ingressos, vendidos pela empresa Ingresso Rápido, na internet e em alguns pontos de venda em Porto Alegre. Em função de morar no interior do Rio Grande do Sul sempre compro ingressos on-line, é mais prático e fazemos a retirada no local, no dia do evento. Quando entrei no site para ver quais as opções de ingresso, constatei que não era possível escolher o local do mapa onde ficam os cadeirantes, então enviei um e-mail para a empresa para que me informasse como deveria fazer para adquirir os ingressos destinados para Pessoas com Deficiência. Recebo a primeira resposta informando que os ingressos para pessoas com deficiência só poderiam ser comprados na bilheteria do local e que sim, poderíamos comprar as cadeiras ao lado do espaço para os cadeirantes, o local de ingresso mais caro do espetáculo.

Bem, foi o mesmo que mexer com a cria da Leoa! Respondi àquele e-mail muito indignada, dizendo que a empresa Ingresso Rápido acabara com meu sonho e o de minha filha! Como um sistema proporciona a compra de ingressos para todas as pessoas, pela internet, menos para quem tem uma deficiência? Ou seja, aqueles que mais têm dificuldades precisam ir até lá para comprar??? Enquanto a massa compra da comodidade de seus lares... E se não bastasse isso, só poderia ir se comprasse o ingresso mais caro do espetáculo? Então infelizmente eu não poderia. Questionei onde estava a deficiência? No sistema deles ou em mim???

Recebi uma bela resposta dizendo que o local onde eu queria comprar não tinha acessibilidade!!!! Daí rugi, com todas as minhas forças!!! Resolvi, com o apoio de muitas pessoas pelas redes sociais que não desistiria, escrevi mais um e-mail para a mesma empresa e para a Opus promoções, dizendo que eles precisam parar para pensar que as Pessoas com Deficiência tem família, filhos e eu jamais iria ao espetáculo se tivesse que ir separada da minha filha, afinal perderia toda a motivação e a razão daquela vontade de vermos juntas um espetáculo  que une as gerações. Mas porque eu precisaria para o valor mais alto do espetáculo? Quem é que tem limitações neste caso?

Finalmente então recebi o retorno esperado, da forma correta de comprar aqueles ingressos! A Opus me orientou a comprar o ingresso mais barato da sessão que eu queria ir, para mim, minha filha e meu acompanhante! Muito bem, aplausos!!! Mas e quem não é do tipo de ir à luta? Quem não tem a habilidade da escrita para chegar até quem tem que ouvir as reclamações? Estas pessoas desistem de seus sonhos? Muitas vezes sim, desistem, mas não deveriam!

Chegando lá no espetáculo, munida de todos os documentos e curiosa para saber como seria recebida, fomos muito bem atendidos, acomodados e pudemos curtir o show bem de pertinho, pelo preço que podíamos pagar! Foi maravilhoso!

Quem sabe um dia as pessoas não precisem passar por estas “provas”, ainda é preciso pedir, implorar, chorar as mágoas, explicar o caso, justificar e lembrar todos os detalhes daquilo que nos torna “pessoas com deficiência” para termos nossos direitos preservados e para que possamos fazê-los valer! É preciso, olhar para as feridas e cutucá-las! É preciso comprovar, provar, documentar, gritar... infelizmente...

Além de tudo isso, quase uma novela, um caso policial, para poder adquirir meros ingressos ainda temos a surpresa final. Sim, porque por mais prevenidos, organizados, corajosos e lutadores por direitos que somos, ainda temos surpresas! O antigo Gigantinho, ao lado do belíssimo Beira Rio, remodelado para a Copa do Mundo de 2014, acredite: Não tem banheiros para pessoas com deficiência! Então: lutamos pelo direito de ir e vir (o mínimo, básico direito que todas as pessoas têm preservados e nós não temos) e ainda por cima não podemos ter vontade de fazer xixi!!!! Agente chora? Ou agente ri pra não chorar? Pra não estragar o lindo e mágico momento agente dá um jeito!!! Com meninas muito queridas do setor de limpeza e organização fecharam o banheiro inteiro para que eu pudesse fazer um xixi básico!

Assim, bola pra frente e vamos para a próxima! Cabeça erguida e prontos para o próximo desafio para poder sobreviver em uma sociedade totalmente deficiente!




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